Depois do texto da Itália e da Juventus, eu havia prometido que no próximo post o time escolhido seria o Milan. Porém, em virtude do aniversário de 110 anos dos nerazzurri resolvi adiantar a seleção do mais internacional clube italiano.
ANTES DE RECLAMAR LEIA ISTO: Diferente de algumas outras matérias deste tipo, tentei seguir ao máximo possível de coerência tática e de posicionamento dos jogadores. Claro que pela quantidade de grandes nomes, principalmente no ataque, me levou a fazer pequenas adaptações mas acredito eu que todas elas foram coerentes com as características dos jogadores. É ÓBVIO que gente boa demais e com história no clube ficou de fora, mas os que entraram tiveram seu lugar no time bem explicado.
Não só o desempenho em campo foi levado em conta, mas a identificação com a camisa azul e preta, à sua torcida e fidelidade à equipe, o que foi preponderante na escolha de alguns jogadores. Dito isso, vamos ao XI:
Portiere: Walter Zenga
A Inter tem uma rica história com guarda-metas: Bordon, Pagliuca, Toldo, Júlio César, agora Handanovic. Alguns desses até mais vitoriosos que Zenga, mesmo assim não tem como: nenhum foi maior ou mais marcante que o "homem-aranha", como era apelidado pelos reflexos, agilidade e elasticidade tão apurados que parecia que o goleiro possuía um sentido aranha.
Chegou na Internazionale aos 11 anos de idade, mas foi emprestado ao Salernitana, Savana e Sambenedettese para ganhar tempo de jogo assim que completou 18. Já que quando subiu o titular absoluto da meta nerazzura era Ivan Bordon. Mas em 83 Zenga entrou no lugar que lhe era predestinado e só saiu 12 anos depois para dar lugar a mais um goleiro histórico da Inter: Gianluca Pagliuca.
Títulos não foram muitos - lugar comum para muitos dos grandes ídolos do clube entre os anos 70 e 00 - mas os poucos foram marcantes: 2 Copa UEFA - uma vencida contra a Roma na final e a última na mesma temporada em que o time ficou a apenas um ponto de ser rebaixado - e o mais emblemático deles: o scudetto dei recordi em 1988-1989, onde foi o goleiro menos vazado do campeonato. Não bastasse isso ainda foi considerado pela IFFHS o melhor goleiro do mundo por 3 anos consecutivos(de 89 à 91) e no último dia 9 foi incluído no Hall da Fama do clube.
Terzino destro: Javier Zanetti
Talvez o maior jogador da mais que centenária história nerazzurra . Javier chegou como uma desconhecida promessa depois do presidente Moratti ter se encantado com um videocassete com lances dele pela Argentina olímpica. Desse dia até 2014, foram 21 anos de lealdade, entrega e uma técnica e vigor físico acima da média - mesmo após ter passado da casa dos 30, não era chamado de trator à toa - seja pela lateral direita, esquerda, meia direita, meia central, volante ou até mesmo de zagueiro.
Apesar de na primeira metade de seu período na Inter ter vivido uma forte seca de títulos. De fato, entre 1995 e 2005 foram apenas um título: a Copa UEFA de 98 - com gol dele na final diga-se - o camisa 4 se manteve fiel mesmo com investidas de outras equipes e viveu o apogeu na segunda metade de sua passagem: de 2005 até a sua aposentadoria foram 5 scudetti consecutivos, 4 Coppa Italia, 4 Supercoppa, a já citada Copa UEFA e o maior de todos: a UEFA Champions League de 2009-2010, conquistada após um jejum de 45 anos. De sobra ainda veio um Mundial de Clubes. Em 2009-2010, além do título da Champions ainda conquistou a Serie A e a Coppa Italia, fazendo da Internazionale o primeiro time italiano a conquistar a tríplice coroa.
Todos esses títulos o fazem o jogador com mais títulos pela Inter, com 16. Além disso é o que mais vezes jogou(858) e o que mais vezes jogou seguidamente com 137. Também é o estrangeiro que mais vezes entrou na Serie A com 618 aparições. O números estrondosos somados a lealdade e garra que demonstrava pelo clube fizeram com que a sua camisa 4 fosse justamente aposentada.
Outro jogador a ter adentrado no Hall da Fama do clube no último dia 9. Há o que se questionar?
Centrale: Giuseppe Bergomi
Lo Zio(ou "o tio") foi o apelido ganho pelo defensor por causa da aparência conflitante com a idade que possuía ao subir para os profissionais - Giuseppe tinha bigode e sobrancelhas bem vastas que o faziam parecer mais velho do que era. Bergomi foi um jogador precoce, e longevo: estreou pela Inter aos 16 anos - recorde no clube até hoje - em um Derby de Italia e só se aposentou 20 anos depois só tendo usado além da maglia negra e azul apenas a camisa da Itália.
Apesar de ter surgido e jogado boa parte da carreira como lateral direito, Bergomi sempre foi conhecido pela sua versatilidade para desempenhar qualquer função de linha da defesa, tendo jogado várias vezes como zagueiro central - bom lembrar que surgiu numa época em que o lateral direito era quase um zagueiro pelos lados na Itália. O que faz com que sua adaptação para entrar no nosso XI não seja forçada.
Títulos não foram muitos -como dito no tópico sobre Zenga, lugar comum entre os jogadores da Inter entre os anos 70 e 00 - ainda mais se levarmos em conta os 20 longos anos que passou vestindo nerazurro: 6 - a Coppa Italia de 82(ano em que foi campeão do mundo com 18 anos entrando na equipe após a lesão de Collovatti no meio do jogo contra o Brasil e ficando até a final), 3 Copa UEFA o que faz dele o jogador italiano com mais conquistas nessa competição e a Serie A de 89 com ele sendo um dos comandantes da defesa menos vazada da competição e terminando 11 pontos à frente do Napoli maradoniano, na época a vitória valia 2 pontos bom lembrar.
Capacidade de antecipação, desarmes firmes, técnica avantajada e 20 anos de lealdade à camisa da Internazionale o fazem ser escalado para nosso XI.
Líbero: Armando Picchi
O capitão da Grande Inter dos anos 60, Picchi foi um dos responsáveis por revolucionar a posição de líbero - com a ajuda de seu técnico, e desafeto, Helenio Herrera que o mudou de lateral direito. Tudo bem que ainda não era o jogador que avançava desde a defesa com a bola dominada até o ataque como a posição viria a ser consagrada nos anos 70, porém Armando ajudou a dar mais protagonismo e importância para o jogador que cumpria a função.
Picchi chegou na Inter em 1960 após passar por Livorno e Spal e nos 7 anos que passou no clube formou a melhor linha defensiva da história nerazzurra com Burgnich, Guarnieri e Facchetti. Liderando a linha defensiva e conquistando um bom número de títulos: 3 Serie A, as duas primeiras Copa dos Campeões do clube em 1964 e 1965 e 2 Intercontinentais.
Infelizmente, o jogador faleceu cedo, aos 35 anos após uma luta perdida para o câncer.
Terzino sinistro: Giacinto Facchetti
Dá pra dizer, sem exageros, que Facchetti viveu uma vida inteira dedicada a Internazionale. Isso porque iniciou a jogar pelo clube em 1960 aos 18 anos. E ficaria por mais 18 sem vestir outra camisa além da do clube - exceção feita à da Azzurra, óbvio - e depois de pendurar as chuteiras ainda passaria por várias funções administrativas na Inter chegando até mesmo à presidência do clube. Cargo que ocupou até a morte, em 2006.
Surgido em uma época em que laterais tinham como basicamente única e primordial função defender, Giacinto foi uma das exceções de seu tempo que ajudou a revolucionar a posição ao lado do brasileiro Nilton Santos e Tommy Gemmell. Mostrando uma veia goleadora superior à dos outros dois: fez 60 gols pela Serie A, dez deles numa só edição em 1965-1966.
Era o desafogo ofensivo de uma defesa rígida que formava com Burgnich e Pirri montada no catenaccio de Helenio Herrera, e com eles ganhou boa parte de seus grandes títulos: 4 scudetti,1 Coppa Italia em 78 e óbviamente as duas Copas dos Campeões e os dois Intercontinentais.
Após o seu falecimento em 2006, foi o primeiro jogador a ser honrado com a aposentadoria de sua camisa - no seu caso a número 3. Nome inquestionável no nosso XI.
Mediano: Gabriele Oriali
Uma vida de mediano é difícil, se trabalha e rala muito e algumas vezes se é agraciado com um gol. Ou até mesmo ganhando uma Copa! Se a vida das pessoas normais pode ser comparada à uma posição do futebol certamente é a de primeiro volante, posição desempenhada por Oriali. Não à toa foi homenageado na canção Una vita da mediano de Luciano Ligabue.
Gabriele entrou nas categorias de base da Inter em 1966, aos 14 anos, se formou profissional e só saiu do clube em 1983. Tendo conquistado 2 campeonatos italianos, em 70-71 e 79-80 e duas Coppa Italia em 77-78 e 81-82. Outros jogadores como Cambiasso podem até ter ganho mais títulos mas Oriali marcou época e virou sinônimo da posição para os italianos.
Centrocampista: Lothar Matthäus
Um dos melhores jogadores da história do futebol mundial o tedesco(alemão em italiano) Matthaus era um jogador dotado de alta capacidade técnica e física que o permitiam rodar e dominar todo o campo além de uma impressionante versatilidade e capacidade de adaptação. Afinal, durante a carreira jogou como meia-atacante, meia central, volante e líbero - se saindo muito bem em todas.
Formado no Borussia Monchengladbach e depois tendo passado pelo Bayern de Munique, Lothar chegou à Inter em 1988 já tendo na bagagem duas convocações para Copas - sendo um dos destaques da última em 86 pela marcação feita à Diego Maradona - e foi comprado para ser o líder técnico do time treinado por Giovanni Trapatoni. E não decepcionou: fazendo 9 gols, um deles sendo o "do título" contra o Napoli e encaixando perfeitamente no modelo de jogo de Trap.
Além do scudetto dos recordes, Der Panzer também conquistou uma Copa UEFA em 91 - o primeiro título continental do clube desde os anos 60 - também fazendo o gol do título - de pênalti - contra a Roma. A Itália acabou se tornando a terra dos sonhos para o alemão, mas não só pela idolatria dos torcedores da Inter: foi na Itália em 90 que foi campeão do mundo com a sua seleção, eleito Bola de Ouro no mesmo ano e Melhor do Mundo pela FIFA no ano seguinte.
A passagem de Matthäus pela Itália foi relativamente breve - apenas 4 anos - mais muito intensa e marcante. Nome indispensável no nosso XI.
Regista: Luis Suárez
Antes de Iniesta e Xavi houve um talentoso meia espanhol que impressionou o mundo com sua capacidade de passe e visão de jogo. Não à toa foi um dos primeiros expoentes da posição de regista, organizando de trás as jogadas de ataque da Grande Inter e lançando bolas para Jair e Mazzola finalizarem os fulminantes contra-ataques do catenaccio de Helenio Herrera.
Primeiro - e até hoje único, se excluirmos o naturalizado Di Stéfano - espanhol a ter sido ganhador da Bola de Ouro, Suárez chegou do Barcelona à Inter em 1961 a pedido de Herrera - com quem já havia trabalhado no clube catalão - e foi sendo recuado pelo argentino para melhor aproveitar seus lançamentos e inteligência sem ser tão apertado pela marcação - trajetória semelhante à de Andre Pirlo, com a diferença de que Suárez era muito melhor meia atacante do que Pirlo era.
Companheiro de vestiário de outros integrantes de nosso XI, Suárez tem os mesmos títulos que alguns destes: com 3 scudetti, 2 Copa dos Campeões e 2 Intercontinentais nos nove anos que vestiu nerezzurro. Além de ter conquistado a primeira Eurocopa de sua seleção enquanto estava na Inter em 64. E ainda anos depois atuou como olheiro da equipe.
O maestro do nosso XI.
Mezzala: Sandro Mazzola
Filho de peixe, peixinho é? No caso de Sandro Mazzola, filho de Valentino - morto no Desastre de Superga quando o filho tinha seis anos - a máxima é verdadeira. Sandro superou o peso de ser filho de um dos maiores jogadores italianos de todos os tempos para fazer seu próprio nome no futebol numa carreira vitoriosa e dedicada exclusivamente à Inter - além da Itália.
Estreou pelo clube tomando de 9x1 da Juventus de Turim com ele marcando o gol de honra de um time formado apenas por juvenis em 1961. Ganhou espaço com a chegada de Helenio Herrera e entrou no time titular pra só sair quando aposentado em 1977. Foi extremamente decisivo nos principais títulos da Grande Inter, apesar de mostrar certo nervosismo antes delas: no túnel para a partida de final da Copa dos Campeões contra o Real Madrid chegou a ficar paralisado ao ver Púskas e Di Stéfano do lado blanco. Mas pra felicidade dos interistas esse nervosismo não se manteve quando entrou em campo e após marcar uma doppietta contra os espanhóis conquistou a primeira Copa dos Campeões do clube. Além disso, nessa mesma partida ganhou a camisa de Ferenc Púskas com o húngaro o dizendo que ele era digno do pai.
Mazzola ainda é o detentor de alguns recordes pelo clube, como o de gol mais rápido da história do Derby Della Madonnina aos 13 segundos do derby de 24 de fevereiro de 1963; é o único jogador da Inter a ter sido artilheiro da Copa dos Campeões, com 7 tentos em 1963-64; além de ser o jogador italiano com mais gols em mundias de clubes ou intercontinentais com 3 tentos.
Mesmo após a aposentadoria, continuou ligado à Inter desempenhando várias funções na diretoria do clube. Outro nome inquestionável no nosso XI.
Secunda Punta: Giuseppe Meazza
O mito de Meazza é tão grande, que o jogador cujo nome rebatiza o San Siro é o único da lista que também atuou pelos outros dois rivais da Inter. Mas isso nem faz muita diferença, já que o clube que ele mais se destacou e se identificou mesmo foi a Inter. Ou Ambrosiana, como foi renomeado o clube durante o negro período do fascismo na Itália.
Com capacidade de drible e arranque com a bola cima da média de sua época Meazza marcou época mesmo sendo um grande amante da noite e de tudo quanto ela tinha a lhe oferecer. Não raro tendo virado noites antes de partidas importantes em bordéis da noite italiana.
Conquistou poucos títulos: duas Serie A, em 29-30 e 37-38 e 1 Coppa Italia mas foi o responsável por ajudar a Inter a se tornar grande sendo ainda hoje o maior artilheiro do clube com 245 gols. E a Itália também: sendo destaque do bicampeonato mundial dos italianos em 1934 e 1938.
Outro a ter continuado ligado ao clube mesmo após a aposentadoria, tendo sido um dos responsáveis por descobrir Mazzola.
Centravanti: Alessandro Altobelli
Apenas dois jogadores passaram da marca de 200 gols pela Internazionale: o mito Giuseppe Meazza e o centroavante do nosso XI, Alessandro Altobelli. Milito pode ter mais títulos e Ronaldo pode ter sido bem mais jogador mas o Spillo apelido ganho por causa do físico magro e da alta estatura, tem números que corroboram sua entrada nesse time.
Além de ser o segundo melhor marcador da história nerazzurra com 209 gols, também é o nono na lista dos que mais jogaram pelo clube com 466 partidas. Também é o melhor marcador da história da Coppa Italia com 56 gols, sendo 46 desses pela Inter e o jogador da Inter com mais gols em competições de clubes da UEFA com 34 gols.
Além disso, conta pontos para Altobelli ser assumidamente torcedor do clube pelo qual passou 11 anos e conquistou 1 Serie A em 80 e 2 Coppa Italia.
Allenatore: Helenio Herrera
O número de vezes que foi citado anteriormente demonstra a importância desse argentino andarilho do mundo para a Inter de Milão. Se não criou o catenaccio é certamente um dos que melhor soube utilizar o esquema. Além disso foi um dos pioneiros em usar técnicas psicológicas, de preparação física e a utilização das famigeradas concentrações - o que causou sérios atritos com alguns de seus comandados. Além disso foi fundamental para a carreira de alguns de seus jogadores os mudando de função ou posição, casos de Facchetti, Picchi, Suárez e Mazzola.
3 scudetti, duas Copa dos Campeões e a solidificação do clube como um dos maiores clubes da Europa e do mundo
E aqui o nosso XI alinhado:
Menções honrosas: Júlio César, Ivan Córdoba, Tarcisio Burgnich, Andreas Brehme, Maicon, Bedin, Mario Corso, Jair da Costa, Diego Milito, István Nyers e Ronaldo.
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