Um hobby que volta e meia me consome certo tempo é o de imaginar XI de todos os tempos de algumas seleções e países, eu já havia feito o da Itália há um (muito)tempo atrás e agora seguirei no país da bota elencando os 11 melhores da história de alguns clubes. E vou começar pelo(na minha opinião) maior deles: a Juventus de Turim.
ANTES DE RECLAMAR LEIA ISTO: Diferente de algumas outras matérias deste tipo, tentei seguir ao máximo possível de coerência tática e de posicionamento dos jogadores. Claro que pela quantidade de grandes nomes, principalmente no ataque, me levou a fazer pequenas adaptações mas acredito eu que todas elas foram coerentes com as características dos jogadores. É ÓBVIO que gente boa demais e com história no clube ficou de fora, mas os que entraram tiveram seu lugar no time bem explicado.
Não só o desempenho em campo foi levado em conta, mas a identificação com as libras zebradas, à sua torcida e fidelidade à equipe, o que foi preponderante na escolha de alguns jogadores. Principalmente os que estavam no clube em meio ao escândalo do Calciopoli. Explicado isso, sigamos em frente!
Esquema: o esquema escolhido foi o 4-3-3, que ao meu ver comporta melhor e de forma coerente os jogadores escolhidos. Algumas adaptações se fizeram necessárias mas nada de muito gritante.
Portiere: Gianluigi Buffon -
No seu estado natural: vibrando loucamente pela Juventus |
E podemos dizer por tudo que apresentou aqui que ainda saiu barato: conquistou 8 títulos italianos, seis deles de forma consecutiva e carrega o fardo de 3 vices em três finais de Champions. Mas mais importante: permaneceu no clube mesmo após o rebaixamento do mesmo para a segunda divisão após os eventos do Calciopoli e foi um dos pilares do reerguimento dos bianconeri nessa década. Sempre em alto nível, com sua titularidade só sendo ameaçada agora com já 40 anos de idade. Além disso, sustenta o recorde mais minutos consecutivos sem tomar gol na Serie A: 974.
Não há o que se questionar no "superman".
Terzino destro: Claudio Gentile -
Dureza e entrega 100% na marcação |
Criado em uma época que o sistema tático em vigor na Itália - seja no puro catenaccio ou na zona mista - pouco permitia ataques dos laterais direitos, para compensar defensivamente as ofensivas do terzino fluidificante na esquerda, Claudio pouco tinha de técnica mas compensava isso com entrega, aplicação tática e dureza na marcação. Foi contratado pela Juventus em 73 após passar por Arona e Varese e em onze anos de zebrado conquistou 6 Serie A, além de uma Copa UEFA e uma Recopa Européia. Infelizmente acabou saindo do clube justo na temporada que a Vecchia Signora conquistaria sua primeira Champions League - 1984/1985, na fatídica final da "Tragédia de Heysel".
Líbero: Gaetano Scirea -
Scirea desfilava sua elegância pelos campos italianos nas décadas de 70 e 80. Se foi cedo. |
Chegou da Atalanta - onde jogava como meia - em 74 para substituir outro grande líbero líder e ídolo da Juventus: Sandro Salvadore. Mal sabiam os torcedores bianconeri que o mito que começaria a ser construído ali eclipsaria quase totalmente a história de Salvadore: foi um dos líderes técnicos e capitão de um dos melhores momentos da história do clube zebrado conquistando em 14 anos vestindo bianconero 7 Serie A, uma Copa UEFA, uma Recopa e a primeira Champions League da história do clube, além do Mundial no mesmo ano, fazendo da Juventus o primeiro clube europeu a conquistar todos os títulos possíveis - à época. Para completar era o jogador com mais partidas disputadas pela Juventus até a chegada de um certo camisa 10 integrante do nosso XI, com 552 partidas.
Infelizmente o jogador faleceu cedo, apenas 3 anos após se aposentar: estava indo ver um jogo do Górnik Zabrze, adversário da Juventus na Copa UEFA quando o motorista tentou uma manobra arriscada e acabou batendo e pegando fogo, no dia 3 de setembro de 1989. Morto no plano terrestre mas para sempre vivo nos corações bianconeri.
Centrale: Giorgio Chiellini -
Nenhum exemplo técnica, mas extremamente competente na marcação |
Afinal, o defensor já experimentou de tudo na Juventus: chegou ainda como lateral esquerdo em 2005, ganhou um campeonato italiano, viu ele ser retirado nos tribunais e o posterior descenso da Juve para a Serie B; participou da retomada do clube e ajudou a construir uma hegemonia poucas vezes antes vista na Itália. Isso sendo um dos esteios de uma das melhores defesas da Europa nesse século. Já conquistou 6 campeonatos italianos e 3 Coppas Itália, e viveu a frustarção de ser duas vezes vice da UCL num intervalo de dois anos para os dois gigantes espanhóis.
Continua honrando a maglia bianconera e ainda arranja tempo para se formar em administração!
Terzino sinistro: Antonio Cabrini -
Cabrini, o sucessor de Fachetti na lateral esquerda italiana |
Se como dito na parte de Gentile, os laterais direitos nos anos de catenaccio/zona mista eram presos na defesa, o contrário acontecia com os laterais esquerdos: tinham total liberdade para avançar, atuando quase como um meia esquerda, o chamado terzino fluidificante. E foi nesse esquema que em 13 anos de clube o jogador conquistou tudo que poderia conquistar pelo clube: Serie A(7x), Coppa Italia(2x), Copa UEFA, Liga dos Campeões e Mundial Interclubes. Sempre como um motor de velocidade e técnica pela esquerda.
Cabrini faz parte ainda do grupo seleto de italianos que perderam um pênalti numa final de Copa do Mundo, junto com os craques Franco Baresi e Roberto Baggio - que apesar disso era um dos melhores rigoristas de seu tempo. Melhor para ele que diferente dos outros dois o seu penal desperdiçado no início do jogo frente à Alemanha(então Ocidental) não fez falta e pode comemorar o tri mundial da Itália.
Mediano: Giuseppe Furino -
Furino tinha uma força física avantajada e era um touro na marcação |
A "fúria". O apelido carinhoso que Furino recebeu da torcida bianconera diz muito sobre seu estilo de jogo: viril, duro e completamente implacável na marcação. Jogou em várias posições mas se sedimentou como jogador nível internacional quando finalmente foi firmado como volante.
Fã de Omar Sívori quando jovem, a ponto de também jogar sem caneleira e com as meias arriadas, acabou se convencendo que o meio de campo era seu lugar após ver Luis del Sol jogar. Apesar de ter se formado na base juventina, só foi jogar sua primeira partida pelo clube em 69, após passar por empréstimos para o Savona e o Palermo. E ficaria em Piemonte por 15 anos, até se aposentar em 1984, com duas Coppa Italia, uma Copa UEFA e uma Recopa Européia e 8 scudetti. O que faz o recordista de títulos italianos por um mesmo clube, junto com Buffon.
Uma bandeira da Juventus? Não para o próprio, já que segundo ele: "Capitão sim, bandeira não. Eu nunca gostei da comparação com as bandeiras, que estão no topo de um mastro. Eu estava em baixo, lutando".
Mezzala: Pavel Nedved -
A Fúria Checa em todo seu apogeu |
Já consolidado(e campeão) no calcio pela Lazio, Pavel se transferiu para a Juventus por 45 milhões de Euros em 2001 para substituir ninguém mais ninguém menos que Zinédine Zidane. Conquistou logo dois scudetti em sequência, fez a partida da vida na semifinal da UCL de 2002-2003 contra o Real Madrid dos galáticos mas um amarelo bobo o suspendeu da final - posteriormente perdida para o Milan nos pênaltis - algo que o marcaria pra sempre. Ganharia mais dois campeonatos seguidos em 05 e 06, mas a punição pelo envolvimento da Juventus no escândalo do Calciopoli os fez serem posteriormente revogados e resultou no rebaixamento do clube.
Propostas não faltaram para o meia, que vinha alguns de seus companheiros debandarem(muito por conta de ser desvantajoso a Juventus manter um time caro como aquele na segunda divisão) mas assim como Buffon e um dos próximos integrantes do nosso XI, o checo permaneceu no clube e os guiou de volta à Serie A. Essa fidelidade ao clube, onde hoje é vice-presidente, aliados ao seu talento e desempenho com a camisa zebrada foram fundamentais para ter seu lugar no nosso plantel.
Regista(ofensivo): Michel Platini -
Uma bola que representa o futebol apresentado por Platini: de ouro. |
Nas suas três primeiras temporadas era o patrão máximo do melhor campeonato do mundo, prova disso são suas 3 artilharias seguidas na Serie A em 1982-83(16 gols), 1983-84(20) e 1984-85(18). E esse desempenho assombroso foi recompensado com 3 Bolas de Ouro consecutivos. Ainda que se pese o fato de na época a Bola de Ouro só admitisse europeus, o que fazia com que jogadores como Falcão e Zico - que poderiam muito bem ter ganho a primeira dessa sequência, em 83 - não participassem do prêmio.
Acabou se aposentando jovem, em 1986 aos 32 anos, mas tendo mudado pra sempre a história da Juventus - e da França - como bem definiu o folclórico presidente da Juventus, Gianni Agnelli: "Nós o compramos por um saco de pães e ele nos fez um foie gras".
Punta destro: Giampiero Boniperti -
Símbolo da Juventus dentro e fora de campo |
Isso porque, quando era jogador, fez parte da equipe que pegou o protagonismo na Itália para si depois que o Desastre de Superga vitimou toda a equipe do Torino, que vivia uma hegemonia no campeonato durante aquela época e era o clube nº1 de Turim. Com o crescimento de Inter e Milan em meados dos anos 50 novamente a Juve ficou em segundo plano, mas o protagonismo foi prontamente retomado quando John Charles e Omar Sívori se uniram a ele no chamado Trio Mágico. Conquistou 5 scudetti como jogador e duas Copas da Itália. Além de ser até a chegada do último integrante desse XI o maior artilheiro do clube com 182 gols.
Como dirigente, pegou o clube num momento de alta dos rivais Milan e Inter, mas com um planejamento que aliava a formação de grandes jogadores na base, captação de jovens promissores de outros clubes e - depois da abertura do mercado italiano para estrangeiros - um craque consolidado em uma equipe que unia o catenaccio tradicional da bota com conceitos modernos do futebol à época.
Definitivamente o Signore Juventus.
Punta centrale: Roberto Bettega -
Olhar compenetrado e ar de confiança: Bobby Gol irá decidir mais um jogo para a Juventus |
Só que na hora de subir ao profissional os manda-chuvas do clube acharam melhor o emprestar para o Varese da segunda divisão, decisão que se mostrou acertada quando o jogador foi artilheiro da divisão e levou o clube para a Serie A. Logo na volta à Juventus se firmou na equipe e participou ativamente do período mais vitorioso da história do clube nos 13 anos que ficou, conquistando sete scudetti, duas Copas Itália e uma Copa UEFA, primeiro título internacional da história do clube, onde em uma final difícil ele acertou uma bala de cabeça - sua especialidade - e deu o título a Juventus contra o Athletic Bilbao em pleno San Mamés.
Já jogando mais recuado por causa da idade avançada o atacante jogou sua última partida pelo clube na final perdida para o Hamburgo em 1983. É ainda hoje o terceiro maior artilheiro dos bianconeri com 178 gols marcados.
Punta sinistra: Alessandro Del Piero -
O maior de todos |
Na temporada seguinte era campeão italiano com a equipe, fazendo nem o time e nem a torcida sentirem falta de seu grande ídolo Roberto Baggio, que vivia seu infortúnio com as lesões no joelho. O desempenho do jovem foi tão bom que fez com que Lippi - que sempre viveu às turras com Baggio - dispensasse o Codino Divino e entregasse a camisa 10 e o protagonismo da equipe nas mãos do Pinturichio. E logo correspondeu, dando o segundo título da UCL para a Juventus, 11 anos após o primeiro e campeão mundial fazendo o gol do título em cima do River Plate. Ainda chegaria mais duas vezes em sequência na final da Champions, todavia sem conseguir repetir o título.
Mas, apesar de todas as conquistas certamente o que solidificou Ale como o maior ídolo bianconero foi sua fidelidade ao clube em seu momento mais difícil: após o envolvimento do clube no Calciopoli e o rebaixamento nos tribunais a Juve se via perdendo meio time titular. Del Piero, já tendo conquistado tudo pelo clube e já sendo o maior artilheiro da história deste poderia sair tendo a sensação de ter feito tudo que podia. Mas não saiu, já que segundo ele "Um cavalheiro nunca abandona sua senhora". Venceu a Serie B, e na volta para a primeira divisão foi o artilheiro e melhor jogador do campeonato. Acabou saindo do clube brigado com a diretoria em 2012, mas mesmo assim teve tempo de estar no elenco campeão invicto naquele ano.
Viveu o céu, o inferno e ajudou a devolver o lugar da Juve ao Olimpo dos grandes clubes. É o maior artilheiro do clube com 208 gols e ainda fez contra a Fiorentina o gol mais bonito dos 120 anos da Juventus, segundo os próprios torcedores. Il Dio Piero.
Allenatore: Também decidi escolher um treinador para comandar esse timaço, e o escolhido foi Giovanni Trapattoni. Apesar da briga ser boa com Marcelo Lippi, foi com Trap que a Juventus se solidificou como a maior potência da Itália, durante sua passagem de 10 anos com os bianconeri, de 1976 a 1986, onde conquistou todos os títulos possíveis(Italiano, Copa dos Campeões, Mundial Interclubes, Copa UEFA, Copa Itália, Supercopa italiana e europeia). Ainda voltaria para mais uma passagem onde só conquistaria uma Copa UEFA.
E aqui nosso XI alinhado em campo:
Como dito foi se necessário alterar um pouco a posição de alguns jogadores. Mas acredito que todos ainda estão em posições condizentes com suas características. Jogadores como Zidane e Sívori não entraram na seleção pois brigavam com jogadores inquestionáveis(respectivamente Platini e Del Piero), e como também havia dito queria ter um mínimo de coerência tática e ao meu ver encher o time de meia-atacantes não condiz com isso.
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No próximo texto da série farei o XI de Todos Os Tempos do Milan.
Menções honrosas: Dino Zoff, Giampiero Combi, Sandro Salvadore, John Charles, Franco Causio, Ciro Ferrara, Andrea Pirlo, Marco Tardelli, Zinedine Zidane e Omar Sívori.
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